terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e o desfile de alegorias reais

A verdade é realmente assombrosa.

O mundo é verdadeiramente assombroso.
Lá, em baixo, na rua, a menina via uma passeata de fantasias reais.
Bailarinas de pernas de chumbo;
Soldados de cifre: Unicórnios.
Em carros e abóboras:
Princesas ao espelho;
Megeras em saltinhos cristalinos.
Homens que arrancam corações,
tinham maçãs na mãos.
Era desfile sem data comemorativa.
Alegorias. Fantasias. Bonecos gigantes. Sorrisos atentos.
Em câmera lenta, jaz iam cruzando a avenida....
E bastou os cílios tocarem a pele
para que quebrasse o encanto.
Acabou o conto de fadas.
O cisne virou praga.
Voltaram, meros humanos,
à sua luta vil e vã.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Curtas (ou não)

Da cozinha
minha mãe me chama:
- Tá pronto o almoço!
Do quarto
eu reclamo:
- É hora do almoço...
Da rua
uma criança emociona:
- É dia de almoço!

-

Comi o pão-do-dia
Vomitei minha poesia.

-

Duas faces
a que chora
e uma que sorri
Duas hastes
a que pende
e uma que fixa
Ambas bailam
num balé
esquisito
dentro de mim.

-
(De quando eu ainda datava o que escrevia)

Incompreendido
o anjo se foi
A porta que se abre
fecha diante destes olhos
A que pertence agora
essa alma?
O azilo
fechou.

10/01/06

-
No silêncio
calei as vozes
Tentei, então,
mentir os olhares
Acabei cega
muda e sozinha

03/05/06

-

Sou um anjo
alma vã
e corpo enfermo
Passeando a minha loucura
entre os becos e quintais
E nos abismos silenciosos
e nas primaveras românticas.
Ecos, reflexos, pedaços completos.
Amor.

17/08/05

-

O papel
A tinta
O vinho
O cinzel
Se fundem
na minha dança combatente
Os instintos e desejos
já ferem o meu superego
Me ponho em conflito
Em colapso.

25/10/05

-

Quem virá e dirá
que faço sempre tudo errado?
Vai se perder
Eu já o sei
e faria tudo novamente
somente para ver
o sangue que circula
nestas veias
parar
entre um susto e
o meio-dia.

22/11/05

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e o tédio

Havia dias, perdidos nas horas, desencaixados do tempo, que a menina permanecia em casa
Trancafiando o mundo por trás das janelas
No pé da porta, junto ao pó, acumulavam-se as cartas e contas do mês.
O olho de lupa estava lá, sentada frente à escrivaninha velha, na qual se encontravam pilhas de papel escrito, agendas, canetas e um calendário do ano passado..
Da cozinha, vinha um cheiro acre de bolor orgânico
Pelas frestas das janelas amarelas despontava, singela, a luz do sol
A menina permanecia lá, instável, estática, estátua.
Os olhos mais pesados do que estiveram ontem,
fixos, mirados na parede à sua frente
E faziam-se horas assim...
Pensava.
em quê?
Sonhava, talvez!
Pensava e sonhava com sua vida mesquinha; pequena
Sua vida grão-de-areia.
No relógio, na parede, batiam os ponteiros como numa luta sussurrante
O tic-tac anunciava, a cada segundo, a batalha perdida contra o gigante do tempo...

Despertae!

A menina mudou a feição,
olhou vagarosamente o ambiente,
respirou cada cheiro..
Abriu a janela:
cegou, por um instante, os olhos.
Pôs o prato à mesa, e começou a comer seu dia Feijão-com-arroz.


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e a Chuva

O dia amanhecera deliciosamente nublado.
A menina permanecera ali, na varanda, deslumbrando a manhã úmida:
Os homens de paletó, com sua maleta numa mão e o guarda-chuva na outra;
Os preguiçosos transeuntes desconhecidos, bocejavam. Desejando ardilosamente ter permanecido na cama;
As crianças encasacadas, inchadas de sono, saiam rumo à escola;
As donas-de-casa, abriam as velhas sacadas, mais tarde que o comum. Permaneciam, velhos zangões, observando o céu que catarolava uma canção de chuva. Então, as senhoras cerravam as janelas e colocavam panos-de-chão nas frestas inferiores das janelas, afim de que a água não entrasse.
E a menina? Ela, saborosamente, sorria. Abismada com a "roda-viva" da vida e os deliciosos acontecimentos sob a sua sacada.

Uma branca nuvem corrompendo o céu...

Às 15:30, a chuva caiu. Entre roncos torrentes e ventos velozes.
A menina saiu da mesa do ofício, e correu para fechar as janelas. Parou. Observou as gotas de chuva batendo, insistentes, no vidro, querendo entrar.
As pessoas, correndo na rua, como formigas perdidas em busca do formigueiro.
Em minutos a rua estava vazia. Completamente vazia.
Aqueles olhos, de lupa finíssima e aguçada, tiveram uma vontade - arrebatadora - de sentir a chuva.
Tirou o casaco, os chinelos, as meias, e correu as escadas..
De pés descalços, com a velha camisa regata branca e a calça jeans desbotada, a menina abriu a porta, e foi como uma chegada aos céus.
Sozinha, a Menina corria, livre, pelo asfalto.
A longa avenida parecia pequenino salão, debaixo dos seus pés.
Bailava, bailarina, a bela menina debaixo da água forte; instintiva.
A chuva, corria pelo corpo; Acariciando, beijando, mãos, bocas...
E a menina sorria, sorria, sorria.
Alegre.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e o analista (de sistemas?)

Ela sentou no divã.
A sala era verde-bebê.
O ambiente era rústico; os móveis, todos madeira velha e mal envernizada.
Tocava um "Harmonium Andino".
Um jaleco alto, de olhos profundos, facilmente desvendáveis, e rosto fechado, entrou na sala.
Solicitou, com olhar conformado, que a menina ficasse a vontade, pressionando-lhe levemente os ombros, para que deitasse no divã.
A menina, em desconforto, obedeceu.
O jaleco, vestido de um branco paz sem utilidade, a não ser dá-lhe a condição médica, sentou-se numa cadeira de couro, atrás do divã; Na escrivaninha de madeira enrustida, pegou um bloco de notas e uma caneta esferogáfica preta.

Dez minutos de silêncio
..........

- Eu
não tenho todo o dia. - Retrucou o jaleco.
- Eu tenho.

2 minutos de
incomodo silêncio..

- O que você espera dessa consulta?
-
Um laudo.
- Huuumm...

- O que te trouxe aqui?
- A curiosidade.
-
Achei que fossem os problemas...
- Não, não. Meus problemas eu já conheço, de longa data.
- Então...., quais os seus problemas?
-
Visuais, meu caro.

O jaleco estava inquieto; Mexia, incessantemente, os pés.
As pernas cruzadas; Impaciente.

- Eu pareço oftalmologista?
-
Na verdade, você me parece um jalecozinho rude, que não suporta mais o que faz; Não aguenta mais os velhos pacientes, e os seus velhos, mesmos, problemas insolucionáveis. E, de alguma forma estúpida, você se sente fadado a esta realidade, por que pensa não saber fazer nada além disso; Você não é capaz de ver, nem sentir que sabe ser bem maior.

O homem e seu jaleco estremeceram junto ao coração. Ele respirava ofegante; Sorria, descontroladamente, em desespero.
A menina, estava serena. Cruel. Parada, olhando para o teto, sobre o divã negro e macio moldando-se ao seu corpo.

- Quem está dando o laudo a quem? - Disse o jaleco, em um desdém desesperado.
- Ninguém.
- Você está me analisando, menina?
- Não.
Eu estou enxergando você.

Um silêncio aterrorizante tomou a sala. O
homem-jaleco parecia ter esvaziado.
A menina prosseguia
estática; imóvel.
Dos olhos profundos e ríspidos uma
lágrima, como fugitiva, surgiu. De repente, a sala fez-se de um pranto triste e revelador.
O homem, com a face inundada, esboçou, rapidamente, no bloco de notas. Jogou o jaleco ao chão, como um animal que deixava a velha pele. Destacou a folha do bloco, e segurou-a tão firmemente que ouvia-se o amassar do papel. Entregou à menina, como quem deixa a vida, resistiu um pouco, pressionando, ofegante, a mão da menina.
Ela, dura, sentiu o calor daquele homem que acabava de ceder à vida.
Os
olhos vermelhos, cruzaram com os olhos de lupa, e o instante cicatrizara no coração do homem.
Ele, assim como um anjo que acaba de descobrir o poder das asas, deixa a sala; Batendo a porta, deixando uma certeza de jamais voltar ali.

A menina, no divã, sorriu, num delicioso (e cruel) desdém.
Leu, então, as palavras no papel amassado e ainda quente:



- "Vai ver o acaso entregou alguém pra lher dizer,
o que qualquer dirá." - Disse a menina, sorrindo, prestes a chorar.
Levantou-se, guardou o papel, e deixou a sala escura, trancada, com o jaleco estirado, frio, lá dentro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e a manhã de domingo

A manhã desperta úmida e fria.
O sol, ainda atrás das cândidas cobertas, acorda a Menina no velho colchão descoberto, no meio da sala vazia, em frente à TV ligada.
Os olhos abriram displicentemente.

O ar úmido que penetrava a janela semi aberta e balançava as cortinas encardidas, irritava seu nariz, e ela, inconscientemente, espirrava.
Era mais uma
manhã de domingo, desses domingos sem fim nem começo. Aqueles domingos frios e tristes, em que se quer ficar deitado, embrulhado, dormindo, até que o dia acabe, para despertar corajoso da simples certeza de não ser mais domingo.
Mas que se há de fazer deitado um dia inteiro num colchão velho e bolorento; numa sala desmobilada; frente a um TV desregrada; debaixo de finas cobertas?
Para a Menina (e metade dos humanos que vivem o domingo morto) não há fuga. Ou ali, pensando e remoendo o que se viu e viveu, ou na rua, vendo mais coisas que depois, mais cedo ou mais tarde,virarão pensamentos dolorosos de domingo...
Ela desperta preguiçosa, senta no colchão cobrindo, sem perceber, as pernas com o fino lençol; olha a TV e o barulho irritante das corridas de formula um e seus narradores alucinados;
Sente o o vento frio adentrar pela janela, sacudindo as velhas cortinas; Acende o cigarro amassado que estava no chão, e deixa o domingo queimar em pensamentos, como queima o tabaco no cigarro acesso.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Embaixo da cama

Tem um coração embaixo da cama!
E ele bate como rufa o tambor do samba faceiro.
Me acorda, quando bate acelerado,
parecendo que sofre ou que chora.
De quem será, Meu Deus, esse coração que bate embaixo da cama?!
Será do monstro ou do nobre cavalheiro?
Sei que não me deixa dormir, e passo noites ouvindo
esse coração batendo, rufando, dentro do meu colchão.

sábado, 6 de outubro de 2007

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e os poetas

Aquela de olhos demais passa noites com Vinicius de Moraes
gotejando em seu ouvido;
Nas mãos:
Fernando Pessoa.Nos gélidos pés: Mário Quintana.
Os poetas tomam-na completamente. Levitam-na. Bailam em salões anis.
Aquecem os seus pés. Entorpecem sua alma. Lambem suas orelhas.
Os olhos da menina brilham como a estrela mais cintilante do céu.
Goza de prazeres incomuns.
Transborda em mundos sutis e ardilosos.
Flutua no ar, como mágica..Magia poética.
Sonetos e temas e poemas. O mundo se fez de prazer.
Ardia lentamente em sua alma o desejo de transcender a pele..

Porém, os poetas fartam-se.
Abruptamente a menina cai...
Vinicius toca a ultima canção e se vai. Vai com o uísque e o violão.
O
Pessoa dá lições e se cala. Ele tem outras mãos para habitar.
Mário foi cuidar dos jardins.Cansou-se dos pés frios..
Ele estava
a espera das borboletas.

A verdade é que mesmo após tantos gozares, a menina prosseguia insatisfeita.
Os poetas tomaram-lhe o corpo e a alma,
mas
interromperam o coito, por não obterem o principal: Sua mente e coração.
Pobres Poetas!
Renderão canções e poesias à menina incauta, intransponível, e de olhos demais.
Inconformados, dirão que a menina não sabe amar nem aprecia o prazer.
Tolos Poetas!
Mal sabem eles que não há poesia mais linda e amor maior que o que habita aquele pequeno coração e cria aquela mente enaltecida.
É provável, que se tivessem adiantado-se, em outro tempo, tomariam a menina completamente.
No entanto, agora,
a menina já se entregara.
A quem os nobres cavaleiros chamam
Marvin, o rapaz da rima perfeita, dera a mente e o coração.
Pobre menina! Nem anseia a devolução.




sábado, 25 de agosto de 2007

Menina dos olhos de lupa

A menina e a pergunta

Ah! Se meus olhos te encantassem você voltaria pra mim?

Se tu existiu e foi minha força, por que me abandonaste?
Ah! Se meus olhos não te cortassem você voltaria pra mim?
Eu não me importo de onde você vem, desde que você venha para mim.

-

A menina e a existência

Talvez não fosse eu aquele rosto sem face no espelho.
Talvez não fosse eu na rua
gritando em silêncio.
Talvez não fosse eu chorando sozinha na praça, sem pensar que o mundo olhava só pra mim.
Talvez não.
Talvez não fosse eu perdida na casa escura, enchendo o travesseiro com minhas dores.
Talvez não fosse eu, e fosse as
almas perdidas tomando conta de mim.
Talvez não fosse eu fingindo ser quem já sou.
Talvez não fosse, e fosse, enfim, a
solidão tomando partido em mim.
Talvez fosse eu, e
eu não sabia.

continua...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A menina dos olhos de lupa


Olhando para a menina.

Dos olhos cheios de lágrimas, fez-se a bruma do dia.

A menina está tão cansada, que mal suporta abrir os olhos.
As ruas não merecem o seu olhar.
Os homens não merecem seu perdão.

Tão pobre menina de olhos demais!
Não te fartas desta vida?
Beijaste a morte. Profana!

Pobre menina dos olhos!
Almoça com baratas mortas.
E deixa a tv ligada, pra não se sentir tão só.

Pobre menina!
Sempre busca alguém... e jamais encontra.
Nas pessoas? Peles, colos, sexo, bocas.
Bocas demais! Que falam ainda mais
e nada dizem.

-

Sonhando pela menina.

Se te fosse um pouco menos moça, e
a alma não te fosse tão velha.

Se não tivesse esse cansaço infidável..
Se não tivesse esses olhos que te carregam..
Ah! Se não os tivesse..talvez fosse bem melhor.
Mas que iria te carregar
Se tu és tristeza e peso?!

És tão só, e tão pequena..
Teus olhos pesam no meu espelho.

Quem sabe, então, te chamasse Lia e rimasse com via
mais direta ao coração..
Quem sabe, então, te chamasse Lia e rimasse com Marvin
e então os dois seriam canção..
Quem sabe, então, te chamasse Marvin e fosses homem que rimasse com Lia
que seriam dois. E seriam um.
Médios em tudo. Em quase tudo.

continua...

domingo, 5 de agosto de 2007

A menina dos olhos de lupa

O inicio de uma história sem fim...


Ela acorda, e nem parece que vive. Respira cansada e afaga os cabelos como forma de esvaziar a mente. Resiste ao sono, e levanta lentamente.
Não há nada de novo.
Banha-se, então, de anseios e medos. Carrega a mochila e prepara seu dia. Caminha pela rua como quem passa fechando portas e carregando nuvens cinzas, prontas para chover. Seus olhos vagam por entre as pessoas, os animais e os lugares.
As bocas, incansáveis, chamam seu nome. Os outdoors exclamam, em propaganda vazia, seu nome, e ela farta-se de si.
Lembra-se da sua nudez diante do espelho, dos seus 'culotes' mal desenhados, seus ombros largos, suas coxas tão largas, busto sutil e braços fortes. Fizeram-lhe em tudo errada, mas deram-lhe dois olhos, e compensaram todos os seus defeitos. Olhos que enxergam. Olhos de raio-x. Ela, e seus olhos de lupa.

continua..

domingo, 13 de maio de 2007

Plaqueta



O caixão adentra a sala, para virar apenas mais um móvel fúnebre.
As viúvas choram, Ou silenciam.
Os transeuntes parecem nem perceber a presença do corpo.
E o corpo, está ali. Estático. Frio. Inerente.
As pessoas ao redor, murmurejam:
-- Descansou, descansou.
Como se um corpo morto, sem vida, pudesse sentir algo.
A alma, esta também não descansa, começa agora a vida eterna.

Pela primeira vez, sinto a morte tão perto de mim, tão perto que posso senti-la. Ela não cheira mal, nem assusta. A morte e sua roupa de cetim. O seu beijo estranho. De repente, amo-a e detesto-a.
Farto-me de respirar este ar mórbido, de ver as janelas abertas, e a poltrona vazia, vazia, vazia...
As horas parecem não passar, mas mesmo assim o dia finda. A noite chega, à noite e sua lua de prata. Lua que brilha contida, calada em si.
A chuva parece vir, e eu penso como seria se viesse. A tempestade que não vem, me distrai. Gosto tanto dos pingos da chuva. Dos relâmpagos e dos trovões.
Calada em mim, com suspiros leves, e pequenos sorrisos cordiais.
As lembranças, vadeiam, rodopiam, bamboleiam, dançam em mim.
Cada pessoa ali, parada, imersa em sua própria arrogância, esperando um pouco de atenção.
As palavras hoje não têm sentido. Hoje a tristeza não é passageira. O hoje poderia ser apenas mais um ‘hoje’, se não estivesse ali, diante de mim aquele corpo gélido, aquele rosto, e o olhar fechado.
Todos se afastam. Eu não afasto a tristeza de mim.
Gostaria tanto de sentir a presença de alguém em mim, mas não há, não existe nada nem ninguém que venha suprir, então, saciar, ao menos, contemplar o vazio que cabe em mim.
As horas passam. O frio chega. A madrugada.. Ah! Madrugada leva-me contigo! Tira-me do silencio e da morbidez de teus passos lentos.

Passa tempo. Passa-tempo. Passa-tem- po.

O sol nasce, e nunca doeu tanto sabê-lo. Tento pensar, mas não consigo.
O fato é que tenho que agir, apressar-me. Para que? Para ver o corpo adentrar a sepultura, e saber que voltará às fileiras, à terra de onde veio.
A casa bombeia gente. Os pastores cantam. As negras viúvas, que expõem seu negro tecido ao sol quente da manha, que sentem a pele queimar, e não sentem dor alguma, choram.
Enfim, o cemitério. O carro fúnebre. O carro negro. O carro patriarca.
A sepultura já a espera. Me dói, dói profundamente ver aquela caixa de madeira precisamente detalhada e coberta com flores, cheia com cenas de adeus.

Mas o que me rompe completamente, é saber que aquele corpo que já foi matéria, já foi peso, risos e lembranças, que já foi dança em mim, histórias e lições, que é dono da minha geração,sangue que corre no meu, e que acima de tudo foi um ser humano, adentra aquela cova para findar como saudade e uma plaqueta de ‘Aqui jaz’.


À minha perda, à minha saudade e à memória de Vovô Silvino.

sexta-feira, 16 de março de 2007

A menina enfrenta o espelho: A manhã em que se reconhece
o novo mundo ou o novo mundo te reconhece.

Diante de si, e do seu corpo incólume
Menina, admira pequenas curvas
e traços sutis.
Foi-se a infância.
Veio a uma pré corpulência juvenil.
Diante do pequeno coração e mente,
a menina fazia tranças em suas bonecas ruivas.

Atrás do espelho, pequenos olhos se abriam para a
voluptuosidade do despertar;
para corpo semi nu e encharcado de suor;
para a malícia recem surgida.

Carne, mãos, toque, reconhecimento.
As mãos de frágeis contornos corriam pela lingeire
branca e semi transparente, conhecia as curvas,
as depressões, a sudorese, o caminho...

A menina, deixara de ser menina.
Para o mundo: Uma nova mulher.



quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Marchand

Este engulho entorpecente que me documenta

Já não faz parte das minhas ideologias impraticáveis
Este ódio execrável que indefere nas minhas idealizações
É simplismente o ídilio deste amor rapineiro

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
Para espantar os meus medos sobre
meus cabelos castanhos
Sobre as lágrimas que tecem esse rosto

Hoje eu quero a sorte
Hoje eu quero a morte

Desejo e fulguraçao

Pra sorrir, pra cantar
e mentir.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Absurdo...

Busquei inspiração nos velhos jornais

e suas histórias mal remendadas.

Nos sambas de um nota só,
fiz canções de ambivalência.

Para, por fim, escrever este poema
num domingo parado,
repleto de homens calados.
Domingo sem começo nem fim.

Caminho pelos contornos cinzentos,
me corto ao meio,
viajo sem saber se irei chegar...

Nos edificios abandonados: silêncio.
Nas portas: senhoras.
Em mim: emblemas.

"Todos os significados são sutis, são mortais."