sábado, 17 de abril de 2010

A menina dos olhos de lupa

A menina e os ponteiros

Não sei do mundo, mas aqui as coisas têm sido bastante confusas. De vez em quando me deparo com esse silêncio interno, um silêncio alheio. Da personagem que me fiz, só restou a estranheleza. Aqui nada se encaixa; tudo parece mal feito e amorfo. Passei a construir pequenos castelos no jardim, para vê-los, um após o outro, lentamente, desmoronar. De repente, não faz diferença se as bases são sólidas ou inconstantes, tudo sempre desmorona, em algum momento.
A fuga de um tempo que já não me pertence é árdua, lenta, massiva. Mas termino cada passo com a certeza que estou mais longe do que jamais estive. A cada passo habito um novo mundo, ao qual não retornarei. Passo a passo, passo o tempo e ficam para trás mais segundos de vida, que, de todo modo, sempre pertenceram aos ponteiros, jamais foram meus.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Balanço

Vou seguir pr'onde estou indo.
Sei que, uma hora ou outra,
hei de saber se é certo ou errado
e haverá tempo para consertos.
O clichê dos clichês diz "nunca é tarde pra recomeçar"
e eu não tenho medo das perdas e ganhos.
Tudo é estrada e eu vou seguir.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Confusão ou Não sei rimar amor com dor ou Domingo

Resquícios de muito tempo atrás:

Não sei rimar amor com dor. Também não gosto de rimas. Os dias são sempre iguais nessa janela, entre essas paredes, dentro deste ser.

Ontem o tempo estava amarelo na minha janela; ontem o tempo cantou solidão por entre os varais. Roupas molhadas, tanque vazio.

Ontem era domingo. Meio-dia, gotas na janela, cinza no céu. Todo dia respinga domingo, em cada bocejo, alguém que partiu.

- É domingo, é domingo...é dia de morte n’alma. Mas domingo tem bingo, quem sabe não ganho de volta minha calma?

Calma liberdade de ser fugaz; ser palavras que negam dança; ser pedra no pé e calo na mão; ser-tempo; sem tempo de calma que clamam os vãos. E os calos calaram pr’ouvir a canção.

Mas ninguém mais canta domingo na igreja, todos lamentam lembranças nas preces, e temos pressa. Domingo não passa. Pensei que envelhece o padre na missa, mas o que me padece é o sino. Bate em mim um sino diferente do da igreja.

Que sino bate na menina cujos olhos nos meus peleja? Que badalos nela embalam? E que homem a entende se seus olhos são blindados; se seus olhos são de faca?


Clarissa Santos e Diogo Testa