sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Perda
Longo.
Grão a grão.
Vagando em ondulações contínuas
e quebra
e quebra
e quebra
Palavras e mais palavras
escritas nas paredes,
jorradas pelas bocas.
Essa impaciência sem fim
emudece os ouvidos,
ensurdece minh'alma.
Todo silêncio do mundo
não seria suficiente
para acalmar essa inquietude,
essa iniquidade,
essa perda.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Felicidade
dos pobres e tolos poetas,
inspirados pela tristeza
e melancolia
pelos amores vis,
pelos becos e boêmia.
A felicidade me levou,
não sei quando vou voltar.
sábado, 17 de abril de 2010
A menina dos olhos de lupa
A fuga de um tempo que já não me pertence é árdua, lenta, massiva. Mas termino cada passo com a certeza que estou mais longe do que jamais estive. A cada passo habito um novo mundo, ao qual não retornarei. Passo a passo, passo o tempo e ficam para trás mais segundos de vida, que, de todo modo, sempre pertenceram aos ponteiros, jamais foram meus.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Balanço
Sei que, uma hora ou outra,
hei de saber se é certo ou errado
e haverá tempo para consertos.
O clichê dos clichês diz "nunca é tarde pra recomeçar"
e eu não tenho medo das perdas e ganhos.
Tudo é estrada e eu vou seguir.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Confusão ou Não sei rimar amor com dor ou Domingo
Não sei rimar amor com dor. Também não gosto de rimas. Os dias são sempre iguais nessa janela, entre essas paredes, dentro deste ser.
Ontem o tempo estava amarelo na minha janela; ontem o tempo cantou solidão por entre os varais. Roupas molhadas, tanque vazio.
Ontem era domingo. Meio-dia, gotas na janela, cinza no céu. Todo dia respinga domingo, em cada bocejo, alguém que partiu.
- É domingo, é domingo...é dia de morte n’alma. Mas domingo tem bingo, quem sabe não ganho de volta minha calma?
Calma liberdade de ser fugaz; ser palavras que negam dança; ser pedra no pé e calo na mão; ser-tempo; sem tempo de calma que clamam os vãos. E os calos calaram pr’ouvir a canção.
Mas ninguém mais canta domingo na igreja, todos lamentam lembranças nas preces, e temos pressa. Domingo não passa. Pensei que envelhece o padre na missa, mas o que me padece é o sino. Bate em mim um sino diferente do da igreja.
Que sino bate na menina cujos olhos nos meus peleja? Que badalos nela embalam? E que homem a entende se seus olhos são blindados; se seus olhos são de faca?
Clarissa Santos e Diogo Testa
sábado, 27 de março de 2010
Flor da pele
Mas os cheiros permanecem em roupas
que não quero mais vestir.
Tento - em vão - afogar as lembranças
do dia em que o sol cobriu a noite.
Hoje, quero só a noite
e sonhos engendrados,
construídos com fita e papel laminado.
Quero olhos-camaleão
pra ver o mundo mudar de cor
junto com a íris.
Cansei do mundo em meio-tom.
Agora quero cores inteiras,
a traço,
espessas,
firmes,
cores fogo e tufão
que possam queimar a flor da pele.