terça-feira, 27 de novembro de 2007

Curtas (ou não)

Da cozinha
minha mãe me chama:
- Tá pronto o almoço!
Do quarto
eu reclamo:
- É hora do almoço...
Da rua
uma criança emociona:
- É dia de almoço!

-

Comi o pão-do-dia
Vomitei minha poesia.

-

Duas faces
a que chora
e uma que sorri
Duas hastes
a que pende
e uma que fixa
Ambas bailam
num balé
esquisito
dentro de mim.

-
(De quando eu ainda datava o que escrevia)

Incompreendido
o anjo se foi
A porta que se abre
fecha diante destes olhos
A que pertence agora
essa alma?
O azilo
fechou.

10/01/06

-
No silêncio
calei as vozes
Tentei, então,
mentir os olhares
Acabei cega
muda e sozinha

03/05/06

-

Sou um anjo
alma vã
e corpo enfermo
Passeando a minha loucura
entre os becos e quintais
E nos abismos silenciosos
e nas primaveras românticas.
Ecos, reflexos, pedaços completos.
Amor.

17/08/05

-

O papel
A tinta
O vinho
O cinzel
Se fundem
na minha dança combatente
Os instintos e desejos
já ferem o meu superego
Me ponho em conflito
Em colapso.

25/10/05

-

Quem virá e dirá
que faço sempre tudo errado?
Vai se perder
Eu já o sei
e faria tudo novamente
somente para ver
o sangue que circula
nestas veias
parar
entre um susto e
o meio-dia.

22/11/05

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e o tédio

Havia dias, perdidos nas horas, desencaixados do tempo, que a menina permanecia em casa
Trancafiando o mundo por trás das janelas
No pé da porta, junto ao pó, acumulavam-se as cartas e contas do mês.
O olho de lupa estava lá, sentada frente à escrivaninha velha, na qual se encontravam pilhas de papel escrito, agendas, canetas e um calendário do ano passado..
Da cozinha, vinha um cheiro acre de bolor orgânico
Pelas frestas das janelas amarelas despontava, singela, a luz do sol
A menina permanecia lá, instável, estática, estátua.
Os olhos mais pesados do que estiveram ontem,
fixos, mirados na parede à sua frente
E faziam-se horas assim...
Pensava.
em quê?
Sonhava, talvez!
Pensava e sonhava com sua vida mesquinha; pequena
Sua vida grão-de-areia.
No relógio, na parede, batiam os ponteiros como numa luta sussurrante
O tic-tac anunciava, a cada segundo, a batalha perdida contra o gigante do tempo...

Despertae!

A menina mudou a feição,
olhou vagarosamente o ambiente,
respirou cada cheiro..
Abriu a janela:
cegou, por um instante, os olhos.
Pôs o prato à mesa, e começou a comer seu dia Feijão-com-arroz.


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e a Chuva

O dia amanhecera deliciosamente nublado.
A menina permanecera ali, na varanda, deslumbrando a manhã úmida:
Os homens de paletó, com sua maleta numa mão e o guarda-chuva na outra;
Os preguiçosos transeuntes desconhecidos, bocejavam. Desejando ardilosamente ter permanecido na cama;
As crianças encasacadas, inchadas de sono, saiam rumo à escola;
As donas-de-casa, abriam as velhas sacadas, mais tarde que o comum. Permaneciam, velhos zangões, observando o céu que catarolava uma canção de chuva. Então, as senhoras cerravam as janelas e colocavam panos-de-chão nas frestas inferiores das janelas, afim de que a água não entrasse.
E a menina? Ela, saborosamente, sorria. Abismada com a "roda-viva" da vida e os deliciosos acontecimentos sob a sua sacada.

Uma branca nuvem corrompendo o céu...

Às 15:30, a chuva caiu. Entre roncos torrentes e ventos velozes.
A menina saiu da mesa do ofício, e correu para fechar as janelas. Parou. Observou as gotas de chuva batendo, insistentes, no vidro, querendo entrar.
As pessoas, correndo na rua, como formigas perdidas em busca do formigueiro.
Em minutos a rua estava vazia. Completamente vazia.
Aqueles olhos, de lupa finíssima e aguçada, tiveram uma vontade - arrebatadora - de sentir a chuva.
Tirou o casaco, os chinelos, as meias, e correu as escadas..
De pés descalços, com a velha camisa regata branca e a calça jeans desbotada, a menina abriu a porta, e foi como uma chegada aos céus.
Sozinha, a Menina corria, livre, pelo asfalto.
A longa avenida parecia pequenino salão, debaixo dos seus pés.
Bailava, bailarina, a bela menina debaixo da água forte; instintiva.
A chuva, corria pelo corpo; Acariciando, beijando, mãos, bocas...
E a menina sorria, sorria, sorria.
Alegre.