domingo, 8 de junho de 2008

A menina dos olhos de lupa

A menina e a Sacada Púrpura III

O homem da sacada púrpura observou a menina dos pés à cabeça, olhou novamente em seus olhos e disse:
- Você fica bem melhor de seda branca e azul.
Quebrou-se o gelo.
A menina sorriu, singela.

- Posso entrar?
- Claro..

Subiram. O menino-homem espiou todo o espaço, sentiu os cheiros...
Enquanto a menina tentava disfarçar a bagunça.
Após analisar o local, ele sorriu e exclamou:
- Pensei que não existisse alguém vivendo pior que eu!
Ela sorriu, extremamente - e duplamente - envergonhada.
Pensava consigo na besteira que acabara de fazer:
"Estúpida, primeiro você abre as portas tão fácil, segundo exibe essa grande imundice!
Grande tola!"


Foram para a varanda.
- Desde quando você mora aqui? - disse ele.
- Desde sempre.
- Eu estou aqui há três anos.. - falou o rapaz, apreciando a vista da rua.
- É, eu sei. - disse a menina
Silêncio.
O homem espiava o mundo ao redor.
O olhos de lupa sentiam medo, medo apenas.

- Você vive sozinha desde sempre também? - disse o homem, olhando para sua casa, do outro lado da rua.
- Talvez. - respondeu fria; temente.
Mais silêncio, mais apreciação e mais medo.

- Você não vai perguntar meu nome? Minha idade? Não vai me dizer coisas bonitas e depois tentar me levar pra cama? - disse a menina frenética; a respiração ofegante; os olhos pareciam querer tomar vida, abertos, ávidos; o corpo tremia, tremia, tremia.
- Não. - respondeu convicto, com os olhos dentro dos olhos de lupa.
A menina se desarmou, e disse complacente:
- Tá.
- Pra mim, você parece uma menina onde uma mulher se perdeu. parece ter uns mil anos - pesados anos - dentro destes olhos profundos, que te suportam e são o que de melhor tens. Também não sou rapaz de dizer coisas bonitas, nem tentarei te levar pra cama, até por que você não tem uma. - disse o rapaz. Inerte e certo de cada letra que dissera.
A menina sorria, num quase desespero.
Jamais alguém havia lhe analisado, tão de perto, tão certo e inabalável.


- Pais? - disse ele.
- Orfã.
- De pai e mãe? - disse, olhando para a menina com certa piedade.
- Sim. - respondeu calmamente, a menina.
- Sinto muito... - falou envergonhao.
- Eu também.
O homem silenciou. Incomodou-se com sua pergunta indiscreta, e não se atrevia a dizer uma palavra sequer.

- Filhos? - perguntou a menina.
- Não. - disse o rapaz, surpreso com a atitude dela.
- Amantes? - perguntou o homem.
- Tive dois.
- Eu tive oito.
- Você ama demais, meu caro.
- É a minha demasiada humanidade.
- Por quê púrpura? - questionou a menina.
- Por que me dá uma condição de realeza, não acha? - disse sorrindo, o nobre rapaz.
- Acho, acho sim. - sorriu também, cúmplice, a menina.

Horas passaram. E os dois sorriam, companheiros desconhecidos, numa varanda pequena e comum...


5 comentários:

Anônimo disse...

Os dois são os estranhos mais conhecidos que já vi.
:P

Mas o bom é que os dois falam o que pensam sem medo da reação.
Pouco comum na 'vida real'.
Infelizmente.

Beijos Fleiry eiry eiry ;*

Taís. disse...

hitória interessante...
já está escrevendo o livro?
xD


beijo.

Mires disse...

Amei a continuação...
vai ter mais???
por favor, por favor, por favor...
auihsiuahsiuhaiuhsuaihiuhaius
Estou ansiosa...

Não dá pra dizer quanto orgulho tenho da minha MA(mmy)RAVILHOSA escritora!!!!

;*

Giuseppe Menezes disse...

Que coisa gostosa de se ler, Clarissa. Caminhe, caminhe para um romance ou, no mínimo, um belo conto.

Você está de parabéns. Até mais! =)

Karlinha disse...

*.*
Até onde chegará a menina?

Até onde você chegará?
Vamos ao próximo capítulo para ver!