quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e a Chuva

O dia amanhecera deliciosamente nublado.
A menina permanecera ali, na varanda, deslumbrando a manhã úmida:
Os homens de paletó, com sua maleta numa mão e o guarda-chuva na outra;
Os preguiçosos transeuntes desconhecidos, bocejavam. Desejando ardilosamente ter permanecido na cama;
As crianças encasacadas, inchadas de sono, saiam rumo à escola;
As donas-de-casa, abriam as velhas sacadas, mais tarde que o comum. Permaneciam, velhos zangões, observando o céu que catarolava uma canção de chuva. Então, as senhoras cerravam as janelas e colocavam panos-de-chão nas frestas inferiores das janelas, afim de que a água não entrasse.
E a menina? Ela, saborosamente, sorria. Abismada com a "roda-viva" da vida e os deliciosos acontecimentos sob a sua sacada.

Uma branca nuvem corrompendo o céu...

Às 15:30, a chuva caiu. Entre roncos torrentes e ventos velozes.
A menina saiu da mesa do ofício, e correu para fechar as janelas. Parou. Observou as gotas de chuva batendo, insistentes, no vidro, querendo entrar.
As pessoas, correndo na rua, como formigas perdidas em busca do formigueiro.
Em minutos a rua estava vazia. Completamente vazia.
Aqueles olhos, de lupa finíssima e aguçada, tiveram uma vontade - arrebatadora - de sentir a chuva.
Tirou o casaco, os chinelos, as meias, e correu as escadas..
De pés descalços, com a velha camisa regata branca e a calça jeans desbotada, a menina abriu a porta, e foi como uma chegada aos céus.
Sozinha, a Menina corria, livre, pelo asfalto.
A longa avenida parecia pequenino salão, debaixo dos seus pés.
Bailava, bailarina, a bela menina debaixo da água forte; instintiva.
A chuva, corria pelo corpo; Acariciando, beijando, mãos, bocas...
E a menina sorria, sorria, sorria.
Alegre.

4 comentários:

Simplesmente Samelly disse...

A menina, muito sábia como toda menina deve ser, sempre sabe que uma chuva quando bem aproveitada, faz sol dentro da gente.

Lindo, lindo!

Beijos recitados

Taís. disse...

ooow adorei...
queria estar nessa chuva, deve ter sido ótima...

adoro o modo como tu usa as palavras, muito massa.
parabéns linda.

=)
bjo.

Diogo Testa disse...

Cla, várias coisas legais:

a comparação entre as pessoas e as formigas, eu tinha feito isso num texto meu outro dia! aí não teve como não ocorrer identificação. A chuva, na verdade, te ler me deu idéia pra um texto meu. Eu também gosto muito dessa idéia de encontrar a liberdade no meio de um mundo cheio de regras que como as correntes, prendem, e acho que seu texto expressou bem isso. Tem uma característica muito importatante nos seus textos que a transformação das suas personagens, como no texto anterior, ele segue abstraído de vida até o momento do climax, onde a impossibilidade de inércia leva a personagem a romper para a vida, é como se suas personagens "nascessem" no decorrer do texto. Isso é uma característica mto legal no que tu escreves.

Aguardo mais. Bjos

Diogo Testa disse...

correções rápidas e comentário extra para fazer número:

*importante / *que é a transformação...