quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A menina dos olhos de lupa

A menina e o tédio

Havia dias, perdidos nas horas, desencaixados do tempo, que a menina permanecia em casa
Trancafiando o mundo por trás das janelas
No pé da porta, junto ao pó, acumulavam-se as cartas e contas do mês.
O olho de lupa estava lá, sentada frente à escrivaninha velha, na qual se encontravam pilhas de papel escrito, agendas, canetas e um calendário do ano passado..
Da cozinha, vinha um cheiro acre de bolor orgânico
Pelas frestas das janelas amarelas despontava, singela, a luz do sol
A menina permanecia lá, instável, estática, estátua.
Os olhos mais pesados do que estiveram ontem,
fixos, mirados na parede à sua frente
E faziam-se horas assim...
Pensava.
em quê?
Sonhava, talvez!
Pensava e sonhava com sua vida mesquinha; pequena
Sua vida grão-de-areia.
No relógio, na parede, batiam os ponteiros como numa luta sussurrante
O tic-tac anunciava, a cada segundo, a batalha perdida contra o gigante do tempo...

Despertae!

A menina mudou a feição,
olhou vagarosamente o ambiente,
respirou cada cheiro..
Abriu a janela:
cegou, por um instante, os olhos.
Pôs o prato à mesa, e começou a comer seu dia Feijão-com-arroz.


2 comentários:

Karlinha disse...

"Aprendendo-se a morrer, aprende-se a viver" (frase de "A Última Grande Lição - um dos livros mais brilhantes que eu já tive o prazer de ler).


Preciso dizer mais alguma coisa?
Viver cada dia como se fosse o último não é filosofar. É necessário. Até mesmo porque, quem garante que não será mesmo?

Seres humanos coitados... Vivemos como se tivéssemos um estoque inesgotável de tempo.

Anônimo disse...

Isso vai bem além das letras...
nós sabemos que as "entrelinhas" falam tanto...

A menina tá ficando cada vez melhor!


(L)
:***